A tarde de um
verão americano é de um calor africano, queima, é fogo puro. Mas ela havia
mudado tudo naquele momento. Um rosto angelical, mas um rosto de quem já havia
experimentado de tudo na vida. Abriu uma cerveja e segurou pelo gargalo, eu
pensava que ela estava vindo em minha direção, mas ela ia sentar na calçada.
Seu carro era antigo, tocava country. Ela observava a estrada e os homens a
observaram como animais, bichos querendo atacar a presa. Eu era
o garçom daquele bar, enxuguei minhas mãos no avental e parei
(como os outros idiotas) para ver aquela mulher, uma mulher como nenhuma já
vista naquele bar. Quando ela pediu outra cerveja, nem olhou para trás. Esticou
sua mão e tudo o que eu tinha a fazer era entregar a bebida. Sua voz não
encaixava com seu tipo. Mas ela ficava mais interessante, que voz divina,
grave, sem emoção.
O que havia levado
aquela ruiva se sentar no chão, beber uma cerveja e ter aqueles olhos tão
vazios? Ela era misteriosa, ela suava medo. Os rumores no bar era de que ela
não prestava, de que tinha vindo de outra cidade, tinha fugido. Eu não queria
acreditar, ela já tinha virado uma deusa. Ela era Hera. Alguns minutos se
passaram e a Hera começou a perguntar aos homens do bar se eles queriam festa?
Se eles queriam ver algo de bom naquela tarde.
Eu achei que aquilo não era uma
boa, aqueles homens não eram dignos de apreciar aquela obra em forma de
mulher. Ela subiu em uma mesa e foi tirando a bota masculina que a
deixava mais linda. Sua pele era tão branca, era como gelo que queimava
feito fogo. A linda mulher dos cabelos em chama, começou a tirar a blusa,
os homens do recinto estavam eufóricos, gritavam e entornavam cerveja pelo
chão. Eu não consegui parar de olhar, eu não ia impedir, eu estava gostando.
Seus seios à mostra eram como uma pintura, seus cabelos e seus seios agora eram
crianças brincando de se esconder.
Ela dançava e deslizava a garrafa de cerveja entre
os seios, as curvas, o rosto. Ela aliviava seu calor. Ela aumentava minha
temperatura. Ela começou a perguntar se eles queriam mais. Eles imploravam por
mais. Eram velhos broxas, jamais iriam conseguir algo com ela.
De repente, ela me chama com o pé. Agora ela era uma bailarina com passos leves
e delicadeza de menina. Ela pediu para que eu desabotoasse seu short jeans. Eu
o fiz. Encostei em seu corpo, ela era mais alta por causa da altura da mesa.
Ela segurou minha cabeça como uma mãe faz com o filho pequeno. Com uma mão em
suas costas sacou uma arma e começou a atirar em todos. Pouco a pouco o dono do
bar e os velhos de sempre foram caindo. O silêncio foi tomando conta do lugar.
Agora o chão virou uma homenagem ao seu cabelo.
-
“Mi nombre es Desirée” – disse ela.
Comecei a chorar. Ela enxugou minhas
lágrimas com arma, me abraçou e eu só senti seus seios quentes contra o meu
peito.
-
Tú eres mío a partir de ahora, no digas nada! Shhh... – susurrou Desirée.
Ela me levou para o carro e eu, apesar de
amedrontado, estava feliz. Finalmente ia viver. Era o meu conto de fadas.
O carro velho roncou e a fumaça apagou meu passado. Aquela mulher mudou a minha
vida e me ensinou que nós nascemos para morrer.
Por
Thaywara Oliveira