Estranhos que visitaram

domingo, 25 de julho de 2010

Ponto de ônibus


Normalmente, no ponto de ônibus, existe um só desejo: que o ônibus chegue logo. Mas, naquela manhã foi diferente para Raquel. Enquanto ela abria sua bolsa para pegar o mp3, e esquecer um pouco do mundo escutando suas músicas prediletas de rock, ela sentiu um cheiro de perfume masculino. Por segundos se manteve imóvel, lembrou-se apenas de ajeitar o cabelo e puxar a blusa, que por coincidência, era sua favorita. O medo de que o ônibus chegasse antes da sua coragem de olhar pra trás a consumia. Raquel num rápido movimento olhou para trás com um imenso desejo de saber quem era o dono do perfume que a deixava alucinada.

O coração de Raquel batia tão forte que ela começou a ter vergonha, parecia que todos podiam escutar. O rapaz alto, branco, com cabelos negros na altura do pescoço, carregava uma mochila nas costas e estava com fones de ouvido. Ele se abaixou para encolher a barra da calça, Raquel acompanhava todos os movimentos do moço. Quando ela ‘’acordou’’, sentiu muita vergonha , pois o rapaz já estava olhando-a também. Ele chegou mais perto. Ela não se moveu. Quando ela o olhava, ele virava o rosto. Quando ele a olhava, ela desviava o olhar para o chão. Ela pensava quais seriam os nomes mais prováveis para um rapaz tão bonito como ele.
Raquel percebeu que ele olhava o relógio a cada minuto. De repente, ele tirou o celular do bolso, olhou o visor e, chateado, atendeu ao telefone. Ela pôde sentir a impaciência dele, e pelo que ela conseguiu ouvir, ele estava esperando alguém. Ela meio triste, imaginou que seria a namorada dele. O cheiro do perfume era cada vez mais forte. Ela sentia que o moço estava cada vez mais perto. Sua boca começou a ficar seca, as mãos trêmulas, como se ele fosse falar com ela. Mas Raquel percebeu que ele passou por ela com um sorriso lindo, muito feliz, mas que não foi falar com ela. No momento ela ficou sem entender ou talvez não quisesse entender.

O rapaz alto, branco, com cabelos negros na altura do pescoço, na verdade estava esperando outro rapaz, que por sinal também era muito bonito. Ele era loiro, alto, mas usava uma calça jeans laranja muito justa. Tinha uma voz doce e um jeito leve de andar. Eles se abraçaram por vários minutos de um jeito diferente. Raquel balançou a cabeça querendo despertar. Mas era notória a troca de olhares, os sorrisos meio que sedutores entre os dois. Ela não era preconceituosa, mas pensava que eles eram duas grandes perdas para o mundo feminino.
Ela reparava nos dois e pensava que o loiro alto serviria para sua amiga Fernanda, sua melhor amiga. Raquel já tinha imaginado como sua mãe ficaria feliz ao ver o primeiro genro bonito. A mãe de Raquel dizia que Raquel só arrumava namorados feios. O ônibus chegou. Raquel sentou na última cadeira do lado esquerdo. Riu de si mesma. E pensou em um motivo para aquele ônibus sempre demorar tanto a passar.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Livramento


Nada está como antes. Agora estou no vazio da cama fria, bagunçada, segurando um pedaço de pano que me ajuda a abafar os soluços de um choro bastante doloroso. Aquele tipo de choro que a gente tem que respirar fundo pra ter forças e chorar mais uma vez. É também um choro de alívio, pode apostar. Nada é como antes. No lugar do teu abraço, tenho um leve empurrão. No lugar do sussurro feliz, um grito que me assusta. No lugar das felizes ligações, telefone desligado. Digo que tudo vai passar, eu vou cuidar de mim e dar a volta por cima, como toda mulher almeja: ficar linda, namorar um deus do olimpo e passar na frente do ex. Desejo muito fazer isso com você, mas como você diz eu não sou de nada. Pode ser, me tornei ‘’nada’’ ao te conhecer, aliás, maldita, hora, lugar e amiga que me apresentou a você. Eu estava tão bem. Terminei me apaixonando e tendo que aguentar a tua mãe, e se você quer saber, eu engulo a sua mãe. Dá palpite em tudo e eu tenho que ficar calada, você sempre fica ao lado dela, pra variar. Mas você se lembra de ter ficado ao meu lado? ‘’Eu não existo longe de você’’ odeio essa frase. Na verdade, ‘’Eu não existo perto de você’’, abri mão da minha vida, você entende? Eu nasci uma vez, tenho uma vida, e desperdiço com você por obra do destino. Nessa sua história de tempos você nunca mudou. É não existe conto de fadas, eu deveria saber disso antes de te conhecer. Qual a parte do ‘’CONTO de fadas’’ eu não entendi? Eu sonhei tanto com o meu futuro, mas tanto. Aí vem você, sabia que você é o meu filme de terror? Você é um lixo, como eu me apaixonei por você, me explica porque não consigo, hoje, raciocinar com clareza. Mas a história acaba de mudar de figura: vai embora. Eu te odeio como nunca odiei ninguém, porque eu quero que você saiba ‘’como é grande o meu ódio por você...’’ As músicas automaticamente ficam assim quando escuto-as, você virou meu mundo de cabeça pra baixo e não do jeito que almejava. Bem que no dia que eu disse ‘’sim’’ naquele santo altar, um anjo poderia ter batido na minha cara, talvez eu acordasse colocasse a mão no rosto e percebesse a besteira que tinha acabado de fazer, seguraria a calda daquela porcaria de vestido e sairia correndo, louca e feliz. Feliz, depois que eu disse ‘’sim’’ a você, não sei mais o que é ser feliz. Suas malas estão feitas, vá embora e não volte nunca mais. Eu não serei hipócrita em dizer que não sentirei falta. Só quero que saiba que o ser humano é único ser capaz de acostumar-se facilmente às circunstâncias, então eu sentirei falta claro, me acostumei a ter um mendigo dentro de casa, sinceramente, eu tinha ódio do seu cheiro e da sua roupa quando chegava do trabalho, parecia que nunca havia comido, e eu dizia ‘’você parece que vive pra comer e não come pra viver’’. Eu estou gritando como quando uma criança ganha um brinquedo que há tempos queria, finalmente, você vai sair da minha vida, adeus, pra nunca mais! E se você me vir com um homem por aí, não se assuste! É que dessa vez eu não quis ter um animal irracional ao meu lado. Te vira e me deixa ser a mulher linda e feliz que sou, em paz.

Por Thaywara Batista de Oliveira.