Estranhos que visitaram

domingo, 8 de março de 2015

Olhos nos olhos





Ele me disse que ia doer e, de repente, já estava fora de casa. Encontrei um poço dentro do meu peito naquela semana. O chão do banheiro era uma extensão da minha cama, eu não sabia se era o chuveiro ou minhas lágrimas que me limpavam. Fiquei sozinha e imóvel durante eternidades, segui minha vida e escondi minhas dores na gaveta da mesinha da sala.


Conheci homens, viajei pelos seus corpos e histórias. Tomei banho de champanhe, fui defumada pelos cigarros em quartos para dois. Mas eu estava ali me erguendo à minha maneira. Conheci lugares e sensações, mas nunca consegui me desprender das lembranças que tive com ele. Eu era uma louca desvairada pelo costume doentio da presença daquele homem.


Meses a fio sem notícias dele, também não perguntava. Curtia minha dor ao som do LP nas noites de quarta. Chorava pela casa, gritava e entoava questionários que já tinham sido respondidos quando ele me deixou, o meu bem. Um ano se passou depois do patético episódio. E tantas águas rolaram, tantos homens me amaram bem mais e melhor que você.


Esbarrei com ele num desses acasos da vida. Sua alegria era forçada, como alguém que teve amnésia e fez amizade na fila do banco. Perguntou pelos vizinhos, pelo trabalho e quis uma visita. Respondi que quando talvez precisar de mim,” cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim.”


Ele me conhecia, sabia que eu estava diferente. Eu cheirava a pecado e segredo, ele só não conseguia mais decifrar o que podia estar acontecendo e não suportava me ver tão feliz. Corri para casa, tirei meus sapatos e me joguei no sofá. Daquele dia em diante, minha vida havia parado para esperá-lo novamente.  


sábado, 25 de janeiro de 2014


A única coisa que me acalma agora é o cheiro da vela de canela que queima na mesinha da sala. Você me presenteou dias antes de partir, me deixou uma vela grande, o símbolo do sétimo dia, pra que eu fosse capaz de velar o fim de nós dois. Lutou pra aceitar as próprias desculpas esfarrapadas, lutou para acreditar que seria melhor me deixar na sarjeta dos sentimentos, replicou que seria para um futuro feliz.

Egoísta. Aquele que pensa que faz bem ao outro, deixando o outro de lado, dizendo o que é melhor para o outro. Mentiroso.  Não faz sentido você decidir o que é bom pro outro, mais bonito falar o que sente de verdade e ir.

Pra que quis enfeitar tanto as ruas, colocar trilha sonora em tudo e me pegar no colo? Tudo tinha data de validade e eu saboreei sem pensar na infecção que isso causaria.

Por você gastei minhas palavras mais belas como a última vida de um gato. A palavra orgulho só tinha o lado bom, que era a vaidade de te ter ao meu lado. Mentira. Você nunca esteve ao meu lado, eu estive atrás de você incessantemente, amar não funciona assim, entendi.

Eu me cortava a cada encontro, saliva e sangue, lágrima e perfume. Você e você. Mesquinho. Decidiu me dar o resto dos teus sentimentos outrora usados, jogou meus versos no lixo. Me encontro numa ressaca de semanas.

Imploro à vida, ao universo, aos deuses, imploro pelo esquecimento arrebatador. Que teu cheiro saia dos becos, que um outro me beije melhor, que eu vire o capítulo desse drama, que um outro alise meus cabelos com os dedos e me cale chamando o meu nome.

Imploro para que eu me ache novamente, que eu redescubra o meu eu, tenho saudade de mim e choro. Desgraçado. Escondeu minhas chaves, quebrou minha bússola, pintou meu rosto de lama. Não fique nem mais um instante, eu não consigo tirar o adeus das mãos. Eu não consigo tirar o teu nome da minha boca.

Manipulador. Nem fica, nem vai. Sedutor, contador, trapaceiro. Fez do meu amor um jogo infantil, revista velha na sala de espera.


Sai. Saia daqui, do estado, do meu mundo. Vá embora que meu desgosto cresce, a saudade também e me odeio por isso. Não sou mais completa, não mais sou ansiosa ou sonhadora, me agarro nas memórias cortantes e mentirosas e perigosas e pobres. Parabéns pelo espetáculo, desarme o circo é tempo de silêncio na cidade. 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Enfim encontrou-se à beira de uma paixão, paixão daquelas que machucam, que arrancam suor e sangue. Vai ter história boa e ruim pra contar, fará um júri no quarto com as amigas, será motivo da falação.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013


Minha insegurança era um ponto positivo para ela, chamei-a para um café e ela percebeu o quanto eu quis a impressionar, pobre de mim se ela confirmar que  estou me apaixonando por ela.

Ceci tinha cheiro de melancia e usava preto naquela noite de frio, eu não me cansava de olhá-la nas luzes bonitas daquele café que eu fiz questão de levá-la. Ceci era encantadora, tinha um quê de ''amadureceu na infância'', era uma garota linda.

 Quando eu digo ''linda'' é porque me apaixonava a cada momento por ela. Pelo cheiro de cabelo recém lavado, pelo jeito que ela coçava o nariz, pela rapidez ao repreender os cabelos, até quando ela me deixava falar, falar, falar até eu me sentir um perfeito idiota.

Eu queria poder dizer a ela o quanto ela estava me encantando e o quanto o tempo parecia correr quando ela estava ao meu lado.

Mas Ceci não gostava de mim como eu queria. Naquela noite, eu não queria lembrar disso.

 Conheci alguns amigos de Ceci, cumprimentei a todos e enxugava o suor de minhas mãos no bolso da calça. Ceci conhecia muita gente, eu senti ciúmes de um dos caras que ela falou.

Ele parecia conseguir o cheiro dela e nem era uma despedida. Eu só podia sentir o cheiro que seu pescoço sussurrava quando eu a deixava em casa e ela dizia que eu era um ''fofo''.

Noites como a do café me faziam esperançoso e imbecil, eu era da friendzone. Mas eu estava disposto a parar com aquilo, muito bem, até que ela me mandasse um sms e eu corria para ela.

O elevador abriu e lá vem Ceci, fico a ponto de explodir e ela vai me abraçar agora. Pausa. É nessa ''pausa'' que meu amor por ela acontece, quando ela me abraça e eu sinto o cheiro dela, quando eu tenho ela pra mim.

Ela já se afastou.

Ceci começou a namorar um dos meus amigos, comecei a ter nojo de Ceci, eu queria matar Ceci e Eduardo. Ceci me tratava como o amigo gay. Eu podia ser o amigo gay para estar ao lado de Ceci.

Não quero saber de Ceci por hoje, Ceci me cortou novamente. Odeio Ceci.

Poxa, Ceci.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Moço



           Num tom de desespero deixo essa mensagem pra você, solta no ar, vai ser entregue pelo universo, passeará pelas estrelas, chegará fria com o vento gélido dessa noite. Eu não sei quem você é, te imagino e desfaço porque não é justo te rotular, te idealizar. Logo você que é tão único, marcado para me encontrar, para entrar na minha vida.  Olha, querido... ah, desculpe! Não sei se você está preparado para ser chamado assim. Bem, você aí, se receber essa mensagem, gostaria de saber onde você está. Te imagino num engarrafamento, saindo de um cinema à noite com alguém que não vai responder suas mensagens ou quem sabe bebendo um copo d’água antes de deitar. 

            A questão é que você está demorando, você precisa me encontrar, rapaz. Ah, perdão! Ou será um senhor? Será que está cobrindo sua garotinha e dizendo que ela precisa obedecer mais? Ou está prendendo quem não escutou este conselho, quem sabe? Sinto que temos um caminho longo pela frente e as estradas podem te confundir. Seja forte e não desista. Me contaram que você vai sofrer, chorar por alguém pensando que é amor. Não seja tolo, a gente ainda nem se viu. Te chamei de ‘’querido’’ mais cedo, é a certeza de que é ‘’você’’, o amor que está guardado para nós, pouco a pouco, vem mudando o curso de nossas histórias. Mas cuidado, você é livre, e isso tudo não é uma sentença, mas a vida seria mais fácil se estivéssemos juntos, entende? Dizem que essa mensagem chegará ao seu ouvido em forma de “vontade”.

        Solteiros sentem um certo desejo repentino de encontrar algo/alguém, alguns se enganam com chocolate. Mas olha, descobri que essa vontade é um outro alguém chamando “nossa” alma. Você, em instantes, sentirá isso. Talvez olhará as estrelas e vai me imaginar, vai querer me encontrar. Não vai saber quem sou, nem conhecerá meu rosto, nem o cheiro da minha pele. Ah, eu sei, eu sei! Imaginará, então, tudo que imagino.

           Talvez um dia você queira saber de onde veio minha ‘’vontade’’. E eu te direi que sou como o Japão, você vai sorrir e talvez  um dia entenderá que o sol nasceu primeiro em mim, mas que eu não deixaria de te iluminar de jeito algum. Talvez você seja meu vizinho, meu chefe, o presidente do país ao lado. Eu não me importo, tome um banho, perfume-se, sorria e confie que eu vou te reconhecer.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Principado



Não precisei de nenhuma carruagem para voltar para casa. Enfrentei, então, com muito medo o frio de uma noite francesa, em meios a cestas de frutas podres, pedintes e bêbados, andei, queria minha casa. Arrastava meu longo vestido que insistia em correr de minhas mãos.  Em alguns becos ouvia as notas de um piano de uma viúva famosa do bairro. O piano gritava sua dor, acalmava aquela solidão irmã gêmea da minha. Os paralelepípedos molhados, carruagens próximas e eu ainda não havia me situado. Decidi parar em um bar, fui confundida com moças da noite. Derramei mais vinho sobre meu vestido que se encontrava podre neste momento.
Fui nomeada princesa por um lindo príncipe. Fui sua bailarina na caixinha de música, dancei em seu lago, joguei minhas tranças, dormi o sono profundo, dancei a valsa mais esperada com o vestido mais desejado da cidade. Ele não me beijou, não me acordou para uma vida dobrada. O chão começou a ter forma de raios e eu precisei imediatamente sair daquele baile, mais uma magia havia se desfeito. Ele precisava selar aquilo antes da minha vergonha chegar, mas ele não o fez. Senti náuseas, o salão começou a rodar e eu só enxergava cachos, sussurros, vestidos, o anel de vidro se quebrar. Eu havia esperado tanto pelo dia de hoje, ele arruinou. O príncipe não me procurou com seu cavalo, nem tinha uma espada para se proteger. O príncipe ficou bêbado e esqueceu-se da minha existência naquela festa, o príncipe esquece-se de me apresentar à sociedade. O príncipe nunca me fez princesa. Ficaria muito mais bonito usar palavras e elementos assim para descrever o que Pedro fez comigo no último sábado. Troque carruagens por táxis, o baile por um club, o príncipe por mais uma tentativa arruinada do mais novo primeiro encontro. Voltei para casa bêbada, tropeçando nas ruas esburacadas da grande Recife, dando “boa noite” ao porteiro, vomitando no elevador, dormindo no sofá e sonhando com o príncipe que vive atrasado, que nunca chega, que é sonho do bom.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

And I love him.




Comecei com algumas cartas, deixei-as em uma pasta, nunca as enviei. Eram bonitinhas demais para jogar no lixo. Faz um tempo e eu não te esqueci, que idiota, você nem lembra mais de mim e, se lembra, só lembra do básico. Talvez ri de mim, talvez não lembra. Revirei a bagunça do meu quarto, depois, a da vida. Achei seu número atrás de uma agenda antiga, com a letra bonita, seu nome era pra ser escrito com cuidado, com amor, com tinta rosa. Liguei e você esperava outra voz, outro chamamento, outra. Não tentei ensaiar o sorriso, mostrei que não perdi aquilo de ser ''real'', de mostrar o que sinto. Mas que imbecilidade a minha, escondi tanto meu sentimento.

Perguntei sobre a vida, perguntei como estava e sobre a vida. Tão bom ele me respondeu pacientemente as perguntas gêmeas. Eu controlando a respiração e tentando falar baixinho, não era eu. A ânsia de que ele não quisesse desligar, ficaria horas escutando a voz dele, ficaria mesmo. Mas a todo momento eu sabia que eu não ia conseguir nada, aquilo não passaria de uma ligação, era como um presidiário que tem direito a uma única chamada por semana. A minha era uma fala na eternidade.

- Eu te amo, você me ama, ainda? – comecei a me beliscar, me odiava.

- Não, eu não te amo.

Ele tinha mesmo que dizer aquilo? Que rude! Agora o odeio tanto que o mataria com minhas unhas. Mas que besta, como fui perguntar o óbvio? Não bastava a notória insegurança e agonia de sempre?

- Eu a amo. Eu sei que pode te machucar e eu realmente me preocupo com seus sentimentos, você merece alguém que sinta o que eu sinto por ela.

Ouvir aquilo foi como um perder um balão na infância, como quebrar um copo antigo da família, foi tirar ele de mim, só que de verdade.

- Eu nunca fiz isso por ninguém, a minha coragem acabou de correr e eu acho que preciso desligar.

- Bom, você que sabe.

- O que vai fazer no domingo?

- Marquei de sair com ela, vamos ao cinema e ...

Eu já não o escutava e sei que foi de propósito, era tudo um jogo pra me machucar e eu gostava (?) disso.

- Olha, tenho que ir, tenho algumas coisas pra fazer.

- Tchau!

Ele riu e aquilo me deu mais raiva, filho de uma puta não sabe ele que tenho muitos aos meus pés, eu que não quero, não sou feito ele. Eu quero um amor de verdade, um amor que marque o domingo pra ficar comigo, que dispense a outra cheia de amor pra dar. Droga, e agora?

- Alô? Ei, porque não eu?

- Acho que somos melhores como amigos.

- Amigos? Mas, nem isso, somos.

- Claro que somos!

- Quantas vezes a gente sai, quantas vezes você liga pra mim?

- Tá vendo? Você quer ser minha namorada, mas eu já tenho uma.

- Você é um idiota, sabia?

- Beleza.

- Eu tô cansada de você, não te ligo nunca mais.

- Tá legal, tchau.

Eu o amo tanto, ele é louco por mim, senti pelo ‘‘tchau’’, deve ter sido difícil pra ele desligar, um amor proibido desses.